Marley sempre!

Marley sempre!

Os últimos dias de Bob Marley


“Como Jah determinou, em novembro de 1980, minha mãe estava recebendo um tratamento para o câncer na Clínica Issels, no refúgio montanhoso de Rotach-Egern, na Alemanha, quando Bob chegou lá. Ela sabia que eu gostava da música de Bob e me mandou um artigo sobre ele de um jornal alemão, que basicamente dizia que ele era um “Superstar do rock do terceiro Mundo”, que em junho havia cantado para dezenas de milhares de pessoas na Alemanha, tocando sua guitarra e entoando canções de liberdade para as pessoas de cor.
O artigo dizia que que ele estava criticamente doente, com um câncer de pulmão que se espalhava pelo seu corpo e estava sendo tratado pelo Dr.Issels, depois que especialistas americanos o terem se desenganado. Em fevereiro de 81, fui visitar a minha mãe por dez dias e acompanhei o programa “anticâncer” de Issels. Como em muitos tipos de medicina alternativa, o programa de Issel não era brincadeira. A maioria das pessoas que iam até a sua clínica haviam se submetido a quimioterapias, radioterapias e outros tratamentos que haviam falhado. Infelizmente, Bob estava muito doente e só falava quando falavam com ele.
A primeira vez que o vi foi quando ele veio da clínica para a sala de espera. Ele havia acabado de tirar os seus dreadlocks, o que era parte do programa. Estava cansado por causa disso e ficava se apoiando na parede. Estava com uma toca de crochê em estilo roots que cobria a sua cabeça careca. Não ficou lá por muito tempo e logo foi chamado para ver o doutor. A clínica estava sempre cheia. Era difícil conseguir um horário para os tratamentos de raio violeta, onde a luz era focada no corpo por 45 minutos. Uma noite, quando havia poucas pessoas na clínica, o médico jamaicano de Bob fez um acordo com o administrador para que Bob fosse submetido a esse tratamento, junto com outros dois pacientes. No terceiro andar, havia três camas no quarto onde era realizado o tratamento com divisórias que só iam até um pouco acima do chão, então você ficava perto da cabeça das pessoas.
Estava perto de Bob, então perguntei a ele como estava lidando com o tratamento, desde que o doutor Issels o proibira de fumar ganja. Não me lembro exatamente das palavras exatas, mas ele começou a falar sobre a Jamaica. Era quase como se ele estivesse em transe. Falou lenta e pensativamente e descreveu a beleza da Jamaica - as praias de areia branca, o sol quente… Falou com tanto sentimento e amor pela Jamaica que fez você se sentir como se estivesse lá, mesmo que eu soubesse que estava nevando forte lá fora. Era aniversário de Bob naquela semana (6 de fevereiro) e ele convidou algumas pessoas da clínica para uma festa de aniversário em seu apartamento. Antes que chegasse muita gente, ele veio até o quarto de espera e conversamos um pouco.
Minha mãe havia lhe contado que eu tocava e quando ela chegou, Bob pediu a sua mãe, Mrs. Booker, para trazer dois violões. Ela se apressou e os trouxe logo. Ele começou a tocar em um violão e eu no outro. Bob não tocou por muito tempo nem muito alto, talvez por uma meia hora, só fazendo uma canja. Todos estavam realmente contentes de vê-lo tocando e tive a impressão de que ele não vinha fazendo isso ultimamente. Também estavam lá Rita, Tyrone Downie, assim como a turma que estava sempre presente.
Eles trouxeram um bolo com os dizeres “Feliz aniversário Rei do Reggae”, mas lembro-me que “reggae” estava escrito errado. Infelizmente a maior parte do tempo da festa ele passou deitado no quarto ao lado. Não levou muito tempo para Jah levar Bob para casa. Ele tinha uma presença forte, mesmo quando a doença o havia reduzido a uma fração do que ele era. Ele parecia tão vulnerável e fora do seu ambiente, mas agora sei que ele está em um lugar melhor.”
Escrito por teiversonalves Abril 5th, 2007
Retirado do site www.surforegae.com.br

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