Marley sempre!

Marley sempre!

... Bob era um "sonhador"

Sua obra toda, apesar da luta incessante, da genialidade, das belas letras, se baseia num "sonho", talvez até uma utopia. E talvez a grande palavra em relação a isso seja "verdade". Bob fazia tudo com muito feeling..
por isso que essa história de "busca fútil por um ideal ilusório", é pura bobagem.

Não é porque o mundo está de cabeça para baixo que eu tenha que seguir sua direção..

E, esse lance de "ser o melhor" ou não, é um questionamento infantil. O reggae não é um jogo, que tenha um vencedor. E se você tratar como um jogo, todos estão do mesmo lado. Mas, se você levar a questão a fundo, sem dúvidas Bob foi o maior...
Ninguém escreveu tão belas músicas, ninguém tinha a presença dele de palco, nenhuma voz talvez se compare a dele (mesmo isso sendo gosto pessoal), e ninguém tinha a "aura" que ele tinha. Isso é fato, ligue o som, escute "Rat Race", ou se preferir algo mais suave "Talkin Blues", depois disso suas dúvidas desaparecem...


Por Juliano Borio

Aí o papo é diferente...


Bob Marley definitivamente não colocou prazo de validade em seu som. Ontem, hoje e amanhã, sempre teve, tem e terá alguém pra dizer:

- Nossa que sonzeira. Quem é?!

 Bob Marley morreu muito cedo, muito jovem, poderia ter feito muito mais som bom, ainda assim, sua música, sua mensagem, seu rastafári ficou. Êta serviço bem feito!!

Parte de texto retirado do site: pensearespeito.blogspot.com

Jah live

Na noite de 23 de setembro de 1980, Bob Marley entrou no palco do Stanley Theatre, em Pittsburgh, nos Estados Unidos, para mais um show da turnê Uprising. Luzes sobre o superstar jamaicano e também sobre sua banda, os Wailers, um dream team do reggae que, entre outras peças, tinha no motor os irmãos Barrett — o baterista Carlton e o baixista Aston —, cujo talento ajudou a criar a rítmica do reggae tal como a conhecemos.
Casa lotada. Ao longo de 2 horas, a plateia exultou. Em sua hipnótica pantomima, com os olhos fechados e às vezes uma das mãos sobre a testa, alternando ataques à guitarra com movimentos pastorais com os braços, Marley mandou Natural Mystic, Positive Vibration, Burnin’ and Lootin’ e, um atrás do outro, vários dos incontáveis hits de sua breve mas tonitruante carreira internacional, iniciada em 1973. Nesse conjunto de dez álbuns — todos com pinta de the best of, como bem já disseram por aí — aparecem Crazy Baldhead, Exodus, No Woman No Cry, Is This Love, Get Up Stand Up e Redemption Song, músicas que, naturalmente, ressurgiam naquela terça-feira à noite, celebrando o início de um outono que se revelaria melancólico.
O show em Pittsburgh, que deveria ser apenas mais um, tornou-se seu último concerto. ... O Live Forever, lançado pela gravadora Universal, tem todos os benefícios que os anos e a tecnologia podem proporcionar, mas, é verdade, não encontramos nele o mesmo viço e energia de discos como Live! (1975) e Babylon by Bus (1978). Mas a misteriosa atmosfera dessas músicas, traço que mesmo as piores bandas de cover não conseguem subtrair, nos intriga aqui de maneira inédita. Naquela noite histórica, e apesar das circunstâncias, Marley mostrou que não dava mole.
Três dias antes, em Nova York, durante um show no Madison Square Garden, ele quase desmaiou no palco. Na manhã seguinte, não se lembrava do episódio. O amigo Alan “Skill” Cole, jogador de futebol e então também um de seus empresários, tinha o que parecia ser a receita ideal para as indisposições do rei do reggae: uma corridinha ao ar livre. Não foi boa ideia: minutos depois, Bob Marley apagaria em pleno Central Park.
Foi batendo bola na Jamaica, em 1975, que ele abriu o dedão do pé direito pela primeira vez. Claro, não foi nada, mas demorou para cicatrizar. Em Paris, dois anos depois, de novo jogando bola, acertaram-lhe o mesmo dedão, lançando fora a unha. A ferida ficava mais feia. Em Londres, um médico o alertou sobre a possibilidade de um câncer, recomendando a amputação de parte do pé. Marley não deixou. “Como é que vou subir no palco?”, teria dito a Rita Marley, cantora da banda e mãe de quatro de seus filhos. “As pessoas não vão querer ver um aleijado.” Um médico de Miami sugeriu um enxerto de pele, o que foi feito. Pronto, ia ficar bom.

O desmaio no Central Park, três anos mais tarde, mostraria que não. Ele já andava meio esquisito, enfraquecido e, para agravar as coisas, relatos dão conta de que não andava bem acompanhado na ocasião. Timothy White, autor da biografia Queimando Tudo (Catch a Fire, na versão original), conta que, no lugar de velhos amigos rastas, havia um séquito de caras cascas-grossas do Brooklyn. ... Faz crer que o clima ao redor de Bob Marley não era bom.
Rita quase não o reconheceu quando o encontrou na manhã de terça em Pittsburgh, mais magro e abatido do que nunca. Os shows da turnê teriam de ser cancelados — exceção para o daquela noite, que Marley fazia questão de fazer. E fez.
O que se seguiu foi um turbilhão. De médico em médico, só ouvia previsões sinistras. Davam-lhe semanas de vida. Fez algumas sessões de radioterapia e, como Sansão, perdeu a poderosa cabeleira — que, para os rastas, é um voto de fé. Sua atitude e seu temperamento mudaram. Teria conservado a doçura e mesmo fortalecido o tom profético das palavras, mas passou a ter momentos de irritação e agressividade. Bem, não é difícil perder um tanto do juízo ou largar-se em estado catártico quando se tem a morte a avançar com suas tropas pelos desfiladeiros da carne. O mal já lhe cingia o fígado, os pulmões e o cérebro — e continuava a se alastrar. Enfim, chegou o momento em que os médicos disseram: “Não há nada a fazer”.
Como último recurso, Marley foi para a Bavária, na Alemanha, onde desde os anos 50 certo doutor Josef Issels utilizava métodos alternativos e polêmicos para o tratamento do câncer, o que o levou a ser banido dos principais círculos médicos e acadêmicos. Ali, Marley foi submetido a uma dieta de frutas, legumes, cereais, iogurtes e chás de ervas, e também passou por transfusões com sangue oxigenado e aplicações de vacinas pouco tradicionais. Deu sinais de melhora. Mas chegou o dia em que também o doutor Issels precisava selar sua sentença: “Não há nada a fazer”. Era o início de maio de 1981.
Voltar para a Jamaica, nem pensar. A ilha estava pegando fogo depois das eleições presidenciais daquele ano, repleta de escaramuças, confrontos e assassinatos. E assim, no dia 9 de maio, a bordo de um jatinho fretado, Bob Marley seguiu da Alemanha para Miami, indo direto para o hospital Cedros do Líbano. No dia 11, pouco antes do meio-dia, chamou a mãe junto à cama e disse: “Fica juntinho, vem mais perto…” Foi seu último verso.
Trechos do texto
Por Otávio Rodrigues
revistaalfa.abril.com.br