Marley sempre!

Marley sempre!

A casa do Rei que se transformou em museu!

"Na primeira manhã em Kingston fui visitar o museu de Bob Marley, a casa onde ele morou os ultimos anos de sua vida, e onde gravou alguns de seus discos clássicos como Uprising.
Que emocão! No quarto de cima a rede de onde ele escreveu algumas de suas músicas e onde se vê a cidade de Kingston e suas montanhas cheias de nuvens.. Segundo o guia aqui, que não permitiu ninguém tirar nenhuma foto ou filmar nada, o que importava mesmo para Robert Marley era a letra de suas musicas, a voz do povo que emanava delas. Chorei vendo um video que contava um pouco da historia de seu paupérrimo bairro de Trenchtown, onde a maior parte das pessoas vive em government yards (habitaçôes populares) que vez ou outra enfrenta guerras entre si e com a policia e como a sua música era a música dessas pessoas, não para destruir nada "burn down this burn down that", mas uma reconciliação positiva do estado de não ter nada e a vontade de viver e superar todas as dificuldades.

Hoje a familia Marley tem dois estúdios de gravação,Tuff Gong Records um deles, ainda na casa onde hoje se localiza o museu, e outro no centro."
Retirado do site Baoba Voador

Isto não é suposto ser um museu?


Casa onde Bob Marley nasceu, nas montanhas de Nine Miles, norte da Jamaica, e onde ele está.

Esqueça tudo o que viu sobre um museu. No Mausoléu Bob Marley o conceito ganha outro significado

Bob Marley está vivo!

O rei do reggae continua, 29 anos após a sua morte, bem vivo na memória de todos. Nascido na pequena comunidade perdida por entre as montanhas do norte da ilha, vagueou pelos mais degradados guetos de Kingston, tal como muitos conterrâneos à procura de melhores condições de vida – e foi aí que a sua carreira musical explodiu, ao lado dos The Wailers. Cantando sempre o lado social, os sonhos dos que, como ele, queriam sair do gueto, fazendo odes em homenagem ao amor, ou declamando também o lado mais espiritual, em homenagem ao deus Jah, qual rastafari de corpo e alma. Acabou por morrer cedo demais, com apenas 36 anos, a 11 de Maio de 1981, com cancro, depois de uma lesão mal curada num dedo do pé, resultado de um jogo de futebol, três anos antes.

“Um museu, isto? Vocês devem andar doidos! Nos museus é suposto falar baixinho, muito mais num sítio em que está sepultado o maior ídolo do país? Isto não é um museu! É um grupo de doidos à solta, dos mais saudáveis que vi na minha vida! ...

Um cenário irreal? Apenas surreal, como quase tudo com o que se depara neste Mausoléu Bob Marley, em Nine Mile, a casa onde nasceu e está sepultado o rei do reggae e o maior embaixador da Jamaica. Se a casa de um digno representante de um país é, por natureza, um local em que prevalece o protocolo, esta “embaixada” parece ser feita à medida para o quebrar.

Depois de inúmeros quilómetros percorridos por entre a vegetação, a certeza de que entraríamos num admirável mundo novo é dada logo à chegada, quando alguns jovens agricultores quase atropelavam o autocarro para nos darem a conhecer os seus frescos produtos. “Yo mon, 50 dólares o saco, queres? Ou já enrolada, 5 dólares cada?” Tudo isto só pela janela do autocarro, antes de estacionar.

Depois desta recepção, não pense que termina aqui a animação. A questão dos souvenirs é resolvida logo à entrada, numa pequena casa de madeira construída para o efeito, em que a cara de Marley aparece estampada em 1001 objetos, e é quando se entra na casa propriamente dita que o ambiente de música e loucura vive o seu auge. Apesar de ser o local onde Marley está sepultado – de frente para o Sol e com uma bíblia, uma bola de futebol, uma guitarra e uma planta de marijuana a seu lado – qualquer espécie de tristeza ou pesados momentos de silêncio e introspecção são aqui barrados à entrada.

Pode ver os jardins onde o músico se sentava a compor ou o seu quarto, mas o que nunca mais esquecerá são os guias e os momentos por eles proporcionados.

Captain Crazy, guia do Mausoleu

Fardados a verde, guardam 5 por cento do tempo para as explicações sobre a vida do mestre, enquanto que todo o resto é passado a rir, rir, rir e a cantar os seus grandes sucessos, conseguindo levar toda a gente a fazer o mesmo e criando momentos verdadeiramente arrepiantes.

Retirado do site Rotas e Destinos

Get Up Stand Up!

"...os homens tentaram acabar com Marley, a Babilônia foi contra ele, mas o poder maior é sua fé, foi sua arma para levantar-se e fazer tudo que fez."

Get Up Stand Up

Get up, stand up: stand up for your rights!

Get up, stand up: stand up for your rights!
Get up, stand up: stand up for your rights!
Get up, stand up: don't give up the fight!

Preacher man, don't tell me,
Heaven is under the earth.
I know you don't know
What life is really worth.
It's not all that glitters is gold;
'Alf the story has never been told:
So now you see the light, eh!
Stand up for your rights. come on!

Get up, stand up: stand up for your rights!
Get up, stand up: don't give up the fight!
Get up, stand up: stand up for your rights!
Get up, stand up: don't give up the fight!

Most people think,
Great god will come from the skies,
Take away everything
And make everybody feel high.
But if you know what life is worth,
You will look for yours on earth:
And now you see the light,
You stand up for your rights. jah!

Get up, stand up! (jah, jah! )
Stand up for your rights! (oh-hoo! )
Get up, stand up! (get up, stand up! )
Don't give up the fight! (life is your right! )
Get up, stand up! (so we can't give up the fight! )
Stand up for your rights! (lord, lord! )
Get up, stand up! (keep on struggling on! )
Don't give up the fight! (yeah! )

We sick an' tired of-a your ism-skism game -
Dyin' 'n' goin' to heaven in-a Jesus' name, lord.
We know when we understand:
Almighty god is a living man.
You can fool some people sometimes,
But you can't fool all the people all the time.
So now we see the light (what you gonna do?),
We gonna stand up for our rights! (yeah, yeah, yeah! )

So you better:
Get up, stand up! (in the morning! git it up! )
Stand up for your rights! (stand up for our rights! )
Get up, stand up!
Don't give up the fight! (don't give it up, don't give it up! )
Get up, stand up! (get up, stand up! )
Stand up for your rights! (get up, stand up! )
Get up, stand up! (... )
Don't give up the fight! (get up, stand up! )
Get up, stand up! (... )
Stand up for your rights!
Get up, stand up!
Don't give up the fight! /fadeout/


TRADUÇÃO

Levante, Resista


Levante, resista: lute pelos seus direitos!
Levante, resista: lute pelos seus direitos!
Levante, resista: lute pelos seus direitos!
Levante, resista: não desista da luta!


Pastor, não me diga,
Que o paraíso está embaixo da terra
Você não sabe quanto
A vida realmente vale
Nem tudo que brilha é ouro
Só metade da historia foi contada
E então agora que você enxergou a luz, eh!
Lute pelos seus direitos. Vamos lá!


Levante, resista: lute pelos seus direitos!
Levante, resista: não desista da luta!
Levante, resista: lute pelos seus direitos!
Levante, resista: não desista da luta!


A maioria das pessoas pensa
Que o grande deus vai surgir dos céus
Levar tudo
E fazer todo mundo se sentir elevado
Mas se você sabe o quanto vale a vida
Vai procurar o seu aqui na terra
E agora que você enxerga a luz
Lute pelos seus direitos


Levante, resista! (Jah, Jah!)
Lute pelos seus direitos! (Ph-hoo!)
Levante, Resista! (Levante, Resista!)
Não desista da luta!
Levante, Resista! (Então, nos nao podemos desistir da luta!)
Lute pelos seus direitos! (Senhor, Senhor)
Levante, Resista!
Não desista da luta! (Yeah!)


Estamos cheios e cansados do seu jogo de ismos -
Morrer e ir pro céu em nome de Jesus, senhor.
Nós sabemos e entendemos:
O deus poderoso é um homem vivo.
Vocês podem enganar algumas pessoas algumas vezes,
Mas não podem enganar a todos o tempo todo.
Então agora que você enxerga a luz (O que você vai fazer?),
Vamos lutar por nossos direitos! (Yeah, yeah, yeah!)


Então é melhor:
Levante, Resista! (Pela manhã! Levante!)
Lute pelos seus direitos!(Lute pelos seus direitos!)
Levante, Resista!
Não desista da luta! (Não desista, não desista!)
Levante, Resista! (Levante, Resista!)
Lute pelos seus direitos! (Levante, Resista!)
Levante, Resista! (...)
Não desista da luta! (Levante, Resista!)
Levante, Resista! (...)
Lute pelos seus direitos!
Levante, Resista!
Não desista da luta








A história de Robert Nesta Marley


O ano de 1945 foi um grande ano. Foi em 45 que, depois de nove anos de uma guerra que matou milhões de pessoas em todo o mundo, finalmente a paz voltou a reinar na Terra. Em todos os cantos do planeta as pessoas se abraçaram e puderam comemorar o final do mais triste episódio da história da humanidade. Milhares de filhos voltaram para suas casas, famílias se reencontraram e a construção de um novo tempo começou. Entretanto, em 1945 houve outro grande acontecimento, que só alguns moradores da pequena vila de Nine Mile, interior rural da Freguesia de St. Ann (Santa Ana), no norte da Jamaica , comemoraram. Foi no dia 6 de fevereiro desse ano que nasceu o menino Robert Nesta Marley, filho de Cedella Booker, uma garota negra de apenas dezoito anos, e do Capitão Norval Marley, do Regimento Britânico das Índias Ocidentais, um inglês branco de 50 anos de idade que, devido a pressões de sua família na Inglaterra, apesar de ajudar financeiramente pouco conheceu o filho. Mas para entender melhor a história desse menino é preciso voltar um pouco mais no tempo. Apesar da escravidão ter sido abolida na Jamaica em 1834, aqueles dias de sofrimento ainda estão na memória dos descendentes de africanos e, misturados com os costumes ingleses, fazem parte da cultura da ilha. Já no começo do século passado a herança africana começava a ter expressão política com Marcus Garvey, um pastor jamaicano que fundou a Associação Universal para o Desenvolvimento do Negro.
Marcus Garvey
A organização defendia a criação de um país negro, livre da dominação branca, em África, que recebesse de volta todos os descendentes de africanos exilados na América. Foi inclusivé com esse intuito que Garvey chegou a fundar uma companhia de navegação a vapor, a Black Star Line. Mas Marcus Garvey é lembrado na Jamaica também por outro motivo. O pastor, nas suas pregações, costumava repetir uma profecia que logo se espalhou entre a população negra. Ele dizia que em África surgiria um Rei negro, o 225º descendente da linhagem de Menelik, o filho do rei Salomão e da rainha de Sabá, que libertaria a raça negra do domínio branco. Anos depois esse rei apareceu. Em 1930 Ras Tafari Makonnen foi coroado Imperador da Etiópia e passou a se chamar Hailè Selassiè. No mesmo momento, os seguidores de Garvey na Jamaica passaram a acreditar que a profecia tivesse sido cumprida e começaram uma nova religião chamada Rastafari. Anos mais tarde, essa religião seria espalhada pelo mundo através da música de um menino chamado Bob Marley.

Bob Marley, com 5 anos
Por volta da década de 50, a capital Kingston era a terra dos sonhos dos habitantes das zonas rurais da Jamaica. Apesar da cidade não oferecer muito trabalho, multidões dirigiam-se para lá para fatalmente engrossarem a população das favelas que já cresciam no lado oeste. A maior e mais miserável dessas favelas era Trench Town (Cidade do Esgoto), assim chamada por ter sido construída sobre as valas que drenavam os dejetos da parte antiga de Kingston, foi para lá que Dona Cedella se mudou junto com seu filho no final dos anos 50.

Bob, sua mãe Cedella e sua irmã Pearl
O menino cresceu nesse ambiente junto com outros meninos de rua e, em especial, seu amigo Neville O’Riley Livingston, mais conhecido como Bunny, com quem começou a tocar latas e guitarras improvisadas em casa. O som que os dois garotos faziam era influênciado pelas emissoras do sul dos Estados Unidos que conseguiam captar nos seus rádios e que tocavam músicas de artistas como Ray Charles, Curtis Mayfield, Brook Benton e Fats Domino, além de grupos como The Drifters que tinham muita popularidade na Jamaica. Nessa época, Bob conseguiu um emprego numa funilaria, mas já tinha a música como grande objectivo de sua vida. A busca desse objectivo ganhou dedicação exclusiva quando uma fagulha da solda com que trabalhava queimou-lhe o olho. O acidente não teve gravidade mas contribuiu para largar o emprego e investir unicamente no aperfeiçoamento da sua música com Bunny. Eles eram ajudados por Joe Higgs, um cantor que apesar de já possuir uma certa fama na ilha ainda morava em Trench Town e dava aulas de canto para iniciantes.
Joe Higgs
Numa dessas aulas Bob e Bunny conheceram outro jovem músico chamado Peter McIntosh. Em 1962 Bob Marley foi escutado por um empresário musical chamado Leslie Kong que, impressionado, o levou a um estúdio para gravar algumas músicas.
Leslie Kong
A primeira delas “Judge Not” logo foi lançada pelo selo Beverley’s. No ano seguinte Bob decidiu que o melhor caminho para alcançar o sucesso era em um grupo, chamando para isso Bunny e Peter para formar os "Wailing Wailers". O novo grupo ganhou a simpatia do percussionista rastafari Alvin Patterson, que os apresentou ao produtor Clement Dodd.
Clement Dodd
Na metade de 1963 Dodd ouviu os Wailing Wailers e resolveu investir no grupo. O ritmo da moda na Jamaica então era o Ska que, com uma batida marcada e dançante, misturava elementos africanos com o rhythm & blues de New Orleans e que tinha Clement “Sir Coxsone” Dodd como um dos seus mais famosos divulgadores. Os Wailing Wailers lançaram o seu primeiro single, “Simmer Down”, atarvés da Downbeat de Coxsone no fim de 1963 e em janeiro a música já era a mais tocada na Jamaica, permanecendo nessa posição durante dois meses. O grupo então era formado por Bob, Bunny, Peter, Junior Braithwaite e dois backing vocals, Beverly Kelso e Cherry Smith.
Nessa época chegou pelo correio a passagem que Dona Cedella, que tinha casado novamente e mudado para Delaware nos Estados Unidos, conseguiu comprar após muito esforço para juntar dinheiro. Ela desejava dar a Bob uma nova vida na América, mas antes da viagem ele conheceu Rita Anderson e em 10 de fevereiro de 1966 casaram-se.
Bob Marley e Rita Marley
Marley passou apenas oito meses com a mãe antes de retornar à Jamaica, onde começou um período que teve importância especial no resto de sua vida. Bob chegou em Kingstom em outubro de 66, apenas seis meses depois da visita da Sua Majestade Imperial, o Imperador Hailè Selassiè, da Etiópia, que trouxe nova força ao movimento Rastafari na ilha. O envolvimento de Marley com a crença Rastafari também estava crescendo e, a partir de 67, sua música começou a refletirse nisso. Os hinos dos Rude Boys deram lugar a uma crescente dedicação às canções espirituais e sociais que se tornaram a pedra fundamental do seu real legado. Bob, então, convidou Peter e Bunny para novamente formarem um grupo, dessa vez chamado “The Wailers”.
Bob Marley, Bunny Livinsgton e Peter Tosh
Rita também começava sua carreira como cantora com um grande sucesso chamado “Pied Piper”, um cover de uma canção pop inglesa. A música jamaicana, entretanto, havia mudado. A frenética batida do Ska deu lugar a um ritmo mais lento e sensual chamado Rock Steady. A nova crença Rastafari dos Wailers os colocou em conflito com Coxsone Dodd e, determinados a controlar seu próprio destino, os fez criar um novo selo, o Wail’N’Soul. Mas, apesar de alguns sucessos, os negócios dos Wailers não melhoraram muito e o selo faliu no fim de 1967. O grupo sobreviveu, entretanto, inicialmente como compositores de uma companhia associada ao cantor americano Johnny Nash que, na década seguinte, teria um grande sucesso com “Stir It Up”, de Bob.
Os Wailers então conheceram um homem que revolucionaria o seu trabalho: Lee Perry, cujo gênio produtivo havia transformado as técnicas de gravação em estúdio em arte.
Lee Perry
A associação Perry / Wailers resultou em algumas das melhores gravações da banda. Músicas como “Soul Rebel”, “Duppy Conqueror”, “400 Years” e “Small Axe” são clássicos e concerteza definiram a futura direcção do reggae. Em 1970, Aston 'Family Man' Barrett e seu irmão Carlton (baixo e bateria, respectivamente) uniram-se aos Wailers. Eles eram a base da banda de estúdio de Perry e haviam participado em várias gravações do grupo. Os irmãos eram conhecidos como a melhor secção rítmica da Jamaica, status que continuariam pela década seguinte. Os Wailers eram então reconhecidos como grande sucesso na Caraíbas, mas internacionalmente continuavam desconhecidos.
Aston 'Family Man' Barrett e seu irmão Carlton, junto à Bob
No verão de 1971 Bob aceitou o convite de Johnny Nash para acompanhá-lo à Suécia, ocasião em que assinou contrato com a CBS, que era também a editora do americano. Na primavera de 72 todos os Wailers já estavam na Inglaterra, promovendo o single “Reggae on Broadway”, mas sem alcançar bom resultado. Como última tentativa Bob entrou nos estúdios da Island Records, que havia sido a primeira a dar atenção ao crescimento da música jamaicana, e pediu para falar com o seu fundador, Chris Blackwell. Blackwell conhecia a fama dos Wailers e o grupo estava fazendo uma proposta irrecusável. Eles estavam adiantando 4 mil libras para gravar um álbum e para que, pela primeira vez, uma banda de reggae tivesse acesso as mais avançadas técnicas de gravação e fosse tratada como eram as bandas de rock da época. Antes dessa proposta as editoras achavam que um grupo de reggae só vendia em singles ou compilações com várias bandas. O primeiro álbum dos Wailers, "Catch A Fire" quebrou todas as regras: era lindamente embalado e fortemente promovido.
I-Threes e Bob Marley (Judy Mowatt, Rita Marley e Marcia Griffits)
Era o começo de um longo caminho à fama e ao reconhecimento internacional. Embora "Catch A Fire" não tenha sido um hit instantâneo, o álbum teve um grande impacto na imprensa. O ritmo marcante de Marley, aliado às suas letras militantes vinham com total contraste ao que estava sendo feito então. Os Wailers chegaram em Londres em abril de 73, embarcando numa série de apresentações que mostraria sua qualidade como banda de shows ao vivo. Entretanto, após três meses, o grupo voltou à Jamaica e Bunny, descontente com a vida na estrada, recusou-se a tocar na turnê americana. No seu lugar entrou Joe Higgs, o velho professor de canto dos Wailers. A turnê americana incluía, além de algumas casas de show, a participação em alguns shows de Bruce Springsteen e Sly & The Family Stone, a principal banda de música negra americana do momento. Mas depois de quatro shows ficou claro que colocar os Wailers abrindo espetáculos poderia ser pouco aconselhável para as atracções principais. A banda foi então para San Francisco, onde a rádio KSAN transmitiu uma apresentação ao vivo que só foi publicada em 1991, quando a Island lançou o álbum comemorativo "Talkin' Blues". Em 73 o grupo também lançou o seu segundo álbum pela Island, "Burnin", um LP que incluía novas versões de algumas das suas mais velhas músicas, como: “Duppy Conqueror”, “Small Axe” e “Put It On”, junto com faixas como “Get Up, Stand Up” e “I Shot The Sheriff” (que no ano seguinte se tornaria um enorme sucesso mundial na voz de Eric Clapton, alcançando o primeiro lugar na lista dos singles mais vendidos nos Estados Unidos). Em 74 Marley passou uma grande parte do seu tempo no estúdio trabalhando nas sessões que resultaram em “Natty Dread”, um álbum que incluía músicas como “Talkin’ Blues”, “No Woman No Cry”, “So Jah Seh”, “Revolution”, “Them Belly Full (But We Hungry)” e “Rebel Music (3 o’clock Roadblock)”.
No início do próximo ano, entretanto, Bunny e Peter deixariam definitivamente o grupo para embarcar em carreiras solo enquanto a banda começava a ser conhecida por Bob Marley & The Wailers. “Natty Dread” foi lançado em Fevereiro de 75 e logo a banda estava novamente na estrada. A composição harmônica perdida com a saída de Bunny e Peter havia sido substituída pelas I-Threes, um trio feminino composto pela esposa de Bob, Rita, além de Marcia Griffiths e Judy Mowatt. Entre os concertos, os mais importantes foram as duas apresentações no Lyceum Ballroom de Londres que até hoje são lembradas entre as melhores da década. Os shows foram gravados e logo o disco, junto com o single “No Woman, No Cry”, estava nas paradas de sucesso. Em Novembro, quando Marley voltou a Jamaica para tocar num show beneficiente com Stevie Wonder ele já era obviamente a maior estrela da ilha. “Rastaman Vibrations”, o álbum seguinte, lançado em 76, atingiu o topo das paradas americanas e é considerado por muitos a mais clara exposição da música e das crenças de Bob. O LP incluía músicas como “Crazy Baldhead”, “Johnny Was”, “Who The Cap Fit” e, talvez a mais significativa de todas, “War”, cuja letra foi extraída de um discurso do Imperador Hailè Selassiè, nas Nações Unidas.
Com o sucesso internacional cresceu a importância política de Bob Marley na Jamaica, onde a fé Rastafari expressa pela sua música alcançava forte ressonância na juventude dos ghetos. Como forma de agradecimento ao povo da ilha, Bob decidiu dar um concerto aberto no Parque dos Heróis Nacionais de Kingston, em 5 de dezembro de 1976. A idéia era enfatizar a necessidade de paz nas ruas da cidade, onde as brigas de gangues estavam a causar confusão e mortes. Logo depois do anúncio do show, o governo convocou eleições para o dia 20 de dezembro. Isso deu nova força à guerra no gheto e, na tarde do concerto atiradores invadiram a casa de Bob e alvejaram-no. Na confusão os atiradores apenas feriram Marley, que foi levado a salvo às montanhas na cercania da cidade.
Marley, sujo de sangue
Entretanto ele resolveu fazer o show de qualquer maneira e subiu ao palco para uma rápida apresentação em desafio aos seus agressores. Foi a última apresentação de Bob na Jamaica por oito meses. Logo após o show ele deixou o país para viver em Londres, onde gravou o seu próximo álbum, “Exodus”.
Lançado no verão daquele ano, “Exodus” consolidou o status internacional da banda, ficando nas paradas da Inglaterra por 56 semanas seguidas e tendo seus três singles - “Waiting In Vain”, “Exodus” e “Jammin’” - com grandes vendagens. Em 78 a banda capitalizou novo sucesso com “Kaya”, que alcançou o quarto lugar na Inglaterra logo na semana seguinte do lançamento. O álbum mostrava uma nova vertente de Marley, com uma colecção de canções de amor e, claro, homenagens ao poder da "Ganja". Do álbum foram extraídos dois singles: “Satisfy My Soul” e “Is This Love”. Ainda em 78 aconteceriam mais três eventos com extraordinária importância para Marley. Em Abril voltou à Jamaica para o “One Love Peace Concert”, quando fez com que o Primeiro-Ministro Michael Manley e o líder da oposição Edward Seaga dessem as mãos em palco, foi então convidado para ir à sede das Nações Unidas, em Nova York, para receber a Medalha da Paz.
E, no fim do ano, Bob visitou a África pela primeira vez, indo inicialmente ao Kenya e depois à Etiópia, o lar espiritual Rastafari. A banda havia recém terminado uma turnê pela Europa e América que rendeu o segundo álbum ao vivo: “Babylon By Bus”. “Survival”, o nono álbum de Bob Marley pela Island foi lançado no verão de 1979. Ele incluía “Zimbabwe”, um hino para a Rodésia, que logo seria libertada, junto com “So Much Trouble In The World”, “Ambush In The Night” e “Africa Unite”. Como indica a capa, que contém as bandeiras das nações independentes, “Survival” foi um álbum em homenagem à solidariedade Pan-Africana. Em abril de 1980, o grupo foi convidado oficialmente pelo governo do recém libertado Zimbabwe para tocar na cerimônia de independência da nova nação. Essa foi a maior honra oferecida à banda e demonstrou claramente a sua importância no Terceiro Mundo. O próximo disco da banda, “Uprising”, foi lançado em maio de 80 e teve sucesso imediato com “Could You Be Loved”. O álbum também trazia “Coming In From The Cold”, “Work” e a extraordinária faixa de encerramento, “Redemption Song”. Os Wailers então embarcaram na sua maior turnê européia, quebrando recordes de público pelo continente. A agenda incluía um show para 100 mil pessoas em Milão, o maior da história da banda. Bob Marley & The Wailers eram a maior banda na estrada naquele ano e “Uprising” estava em todas as paradas da Europa. Era um período de máximo optimismo e estavam a ser feitos planos para uma turnê na América na companhia de Stevie Wonder no final do ano.
No fim da turnê européia Marley e a banda foram para os Estados Unidos. Bob fez dois shows no Madison Square Garden, mas logo após caiu sériamente doente. Três anos antes, em Londres, tinha ferido o dedo do pé a jogar futebol. O ferimento tornou-se canceroso e, apesar de ter sido tratado em Miami, continuou a progredir. Em 1980, o câncer, na sua forma mais virulenta, começou a espalhar-se pelo corpo de Bob. Ele controlou a doença por oito meses, fazendo tratamento na clínica do Dr. Joseph Issels, na Bavária. O tratamento de Issels era controverso por usar apenas remédios naturais e não tóxicos e, por algum tempo, pareceu estabilizar a condição de Bob. Entretanto, repentinamente a luta começou a ficar mais difícil. No começo de maio ele deixou a Alemanha para voltar à Jamaica, mas não completou a viagem.
Bob Marley morreu num hospital de Miami na segunda-feira, 11 de maio de 1981. No mês anterior, Marley havia sido agraciado com a Ordem do Mérito da Jamaica, a terceira maior honra da nação, em reconhecimento à sua inestimável contribuição à cultura do país. Na quinta-feira, 21 de Maio de 1981, o Honorável Robert Nesta Marley O. M. recebeu um funeral oficial do povo da Jamaica. Após o funeral - assistido tanto pelo Primeiro-Ministro como pelo líder da oposição - o corpo de Marley foi levado à sua terra natal, Nine Mile, no norte da ilha, onde agora descansa em um mausoléu. Bob Marley morreu aos 36 anos, mas a sua lenda permanece viva até hoje.




O lado sentimental de Bob Marley

A vida de Bob Marley tem sido contada, recontada e analisada em milhares de teses, artigos, livros, CD-Roms e Páginas da Internet (inclusive aqui no Massive). Novos relatos foram ou estão sendo lançados e continuarão sendo ao longo dos anos, afinal ele é um dos artistas mais influentes do século. Ao mesmo tempo novos lançamentos na área musical têm trazido à tona obras do mestre do reggae que apenas algumas pessoas haviam ouvido até hoje. No entanto, enquanto sua vida continua sendo revolvida, há pouca coisa escrita sobre a sua obra. Uma das exceções foi o artigo que Michael Kuelker escreveu para edição anual de 1999 da revista americana The Beat sobre Marley chamado "Bob Marley à luz do Livro dos Provérbios", em que ele traça as influências deste livro da Bíblia sobre as letras das canções do Tuff Gong. Menos ainda foi escrito sobre o lado romântico de Marley, o que é uma pena, pois ele nos brindou com algumas das mais belas canções de amor da história da música popular.
Parte do que foi publicado sobre ele fala de sua atribulada vida amorosa, dos vários filhos que deixou com diversas mulheres, da sua inconstância nos relacionamentos, mas pouco foi dito sobre suas letras, que sempre louvaram, lamentaram a falta ou relataram boas experiências com elas, jamais as desrespeitando, como em alguns exemplares da música jamaicana atual. O lado emotivo foi certamente importante na obra de Bob Marley, mas muitas vezes passou desapercebido, ofuscado ora pelo perfil militante que ele privilegiou nos últimos anos de vida, ora pelo perfil mulherengo que alguns querem ressaltar em sua trajetória. E mesmo assim foi a vertente responsável por alguns dos maiores sucessos do rei do reggae, ajudando a tornar o ritmo de Jah popular em todo o mundo.
Marley com uma de suas admiradoras (talvez Kate Simon, autora da foto da capa da álbum 'Kaya')

No início da carreira foi influenciado por grupos americanos como os Impressions (liderado por Curtis Mayfield, recentemente falecido, que foi o autor de "Keep on Moving", muitas vezes atribuída a Marley). Por isso ele gravou, como um dos Wailers, diversos clássicos do cancioneiro romântico, como 'Ten Commandments of Love', 'Teenager in Love' e até 'And I love Her', dos Beatles. Marley também era o que compunha a grande maioria das canções de amor dos Wailers, como "Do you feel the same way", "Do you remember" – 'Do you remember the first time we met? / It was a moment I never will forget... (Você se lembra da primeira vez que nos encontramos? / Foi um momento que nunca esquecerei...) –, "I'm still waiting", a comovente "Wages of Love", "There she goes" , "I Need You", "Diamond Baby", "I Don't Need your Love", entre outras gravadas para Coxsonne Dodd até 1967. Foi talvez a fase em que Bob deixou que sua emoção transparecesse de forma mais explícita nas gravações, coincidindo com seu romance e casamento com Rita Marley, em 66. São faixas que vão do ska ao rocksteady, acompanhando as tendências da música jamaicana (que podem ser ouvidos em coletâneas como 'Birth of a legend' [Columbia] e 'One Love' [Heartbeat]). Mas logo seriam os Wailers que ditariam o ritmo na ilha.
Rita Marley, oficialmente casada com Bob e mãe de três de seus filhos, lançou o polêmico livro "No Woman No Cry", onde detalha seu relacionamento com Marley

Enquanto isso não acontecia, eles continuavam em sua busca pelo reconhecimento, gravando no final dos anos 60 com vários produtores, como Leslie Kong, Danny Sims e Lee Perry. Com eles Marley exacerbou o seu lado conquistador, gravando faixas que traziam insinuações sexuais, como "Stir it Up", "Do it Twice", "Try me", "No Water", entre outras. Logo o som dos Wailers estaria maduro para o mercado internacional e este começou a ser ganho a partir da entrada do grupo na gravadora inglesa Island.
O romantismo ficou em segundo plano e os quatro primeiros álbuns dos Wailers para a Island destacaram a face militante e a espiritual do grupo. Era justamente na conjugação destes dois lados que estava a originalidade da banda e foi por isso também que estes aspectos de sua música foram privilegiados, apesar da vida amorosa de Marley continuar movimentada. Nos quatro primeiros álbuns sob este selo, 'Catch a Fire', 'Burning', 'Natty Dread' e 'Rastaman Vibration' (neste dois últimos sem Bunny Wailer e Peter Tosh), apenas a regravação de 'Stir it Up' e 'Baby we've got a Date' tocavam no tema amoroso. Tema que, não por acaso, voltaria com força apenas nos dois discos lançados após o atentado que quase tirou a vida de Marley em 76, que foram 'Exodus' e 'Kaya'.
'Exodus', eleito pela revista Time como o álbum do século, ainda traz as sequelas do atentado, mas também o que um dos biógrafos de Marley, o jornalista Stephen Davis (que também escreveu o clássico 'Reggae Bloodlines', considerou como 'as canções de amor mais passionais e mais profundamente sentidas que ele jamais escreveu', o que aquele autor considerou como um reflexo de seu caso com a modelo jamaicana Cindy Breakspeare. 'Waiting in Vain' (que muitos acham ter sido dirigido a ela) retoma o tema da espera também explorado em 'I'm still waiting' (uma canção da primeira fase dos Wailers). 'Turn your lights down low', uma canção pouco conhecida do repertório de Bob (que recentemente ganhou uma bela versão cantada por sua nora Lauryn Hill), são de uma rara inspiração, traduzindo um momento de bonança emotiva.
Cindy Breakspeare foi eleita Miss Mundo em 1976 e é por muitos considerada como o grande amor de Marley, relacionamento que gerou o hoje também cantor e DJ Demian Marley

Em 'Kaya' predomina a postura de celebração da vida, com gravações extremamente relaxadas que contam as pequenas alegrias do cotidiano, como 'Easy Skanking', que abre o álbum. Outras faixas como 'Sun is Shining', uma regravação de uma de suas colaborações com Lee Perry, a própria faixa-título e, naturalmente, as faixas de cunho romântico, vão na mesma direção. 'Kaya' traz a mais conhecida canção de amor de Bob, "Is This Love", onde Marley 'põe as cartas na mesa' e se declara para sua amada, dizendo querer morar com ela, ser legal com ela, enfim, tudo o que uma mulher gostaria de ouvir em uma situação como essa. Por outro lado também traz 'She's Gone', canção que é uma espécie de continuação da antiga 'There she goes', onde esta narrava a partida da mulher amada, enquanto que naquela o amante abandonado se lamenta por tê-la deixado partir. Aliás o número razoável de músicas de 'dor-de-cotovelo' na obra de Marley parece sugerir que ele também sofreu nas mãos de suas mulheres. Outra regravação da época de Perry, 'Satisfy my soul', talvez seja a que melhor traduz o espírito do álbum, onde Marley pede à mulher que não o abandone porque ela satisfaz a sua alma, evocando uma das grandes paixões do cotidiano dos jamaicanos, a corrida de cavalos, ao cantar que ela o faz se sentir como um vencedor da 'sweep-stake', que é uma modalidade de competição eqüina.
Bob Marley fez canções sobre todos os sentimentos envolvidos nos relacionamentos amorosos, como desejo, ternura, abandono, desespero, fossa, alegria, companheirismo

Mas o destino iria intervir novamente e a descoberta da doença que acabaria por levar Marley para Zion, em 81, fez com que ele mais uma vez se concentrasse na mensagem político-religiosa, pois sentia que tinha pouco tempo e queria fazer as coisas acontecerem. E foi justamente o que ele fez ao compor músicas como "Zimbabwe", responsável pela inspiração revolucionária dos combatentes daquele país em sua luta contra o regime de dominação dos colonizadores de ingleses (e alguns rumores dizem que ele teria inclusive financiado a compra de armas para eles, o que não é de todo improvável). Assim, os seus últimos álbuns, que são 'Survival', 'Uprising' e ''Confrontation', passam ao largo do romantismo (a faixa 'Could you be Loved', apesar do título, é mais um apelo para as pessoas lutarem por suas vidas, do que uma canção de amor).
Recentemente o documentário "Rebel Music" abordou com mais profundidade o papel das mulheres na vida de Marley, com depoimentos de Esther Anderson, contratada pela Island para trabalhar com Marley e que acabou tendo um caso com ele (ela diz ter inclusive sugerido versos para músicas como "I Shot the Sheriff") e Cindy Breakspeare. Rita esclarece que nunca lidou com naturalidade com a questão mas que hoje aceita os filhos que Marley teve com outras mulheres como se fossem seus.
O amor e o sexo são temas vitais, cantados por Marley enquanto ele se sentia pleno de vida e sentimento. Que sua produção romântica tenha sido negligenciada em seus últimos anos foi uma indicação clara de sua partida iminente. Talvez alguns entendam que este foi um tema menor em sua carreira, mas um estudo de maior fôlego sobre sua vida e obra pode mostrar que este era um lado importante e não marginal da sua personalidade. Uma faceta que ele só deixou de traduzir em suas canções quando precisou marcar uma imagem nítida para o público fora da Jamaica e quando sua vitalidade já estava sendo minada pelo câncer. Negar o Bob Marley terno, o Bob Marley amoroso é negar a sua vida, é reduzí-lo ao estereótipo, é terraplanar a personalidade complexa de um ser humano como nós. Falar do Bob Marley sentimental é falar deste lado humano tantas vezes ofuscado por uma imagem onipresente que foi construída em parte pela mídia e em parte por ele mesmo. Um estudo mais aprofundado sobre este assunto poderá revelar nuances desconhecidas do homem e do artista Bob Marley.
Retirado do site www.massivereggae

O homem que desafiou a babilonia

Conheça a saga de Bob Marley, o maior expoente que o reggae já teve.


Província de St. Ann - Jamaica: Ali começava a saga de um dos maiores ícones da música mundial de todos os tempos. No dia 6 de fevereiro de 1945 nascia Robert Nesta Marley, ou simplesmente Bob Marley, aquele que mais contribuiu para difusão do reggae pelo mundo.


Bob viveu na pequena St. Ann até 1957, quando se mudou para Trenchtown, um bairro muito pobre de Kingston. Lá, encontrou uma realidade árdua, marcada pela pobreza e pela violência. Foi nesse contexto social que o rei do reggae cresceu e colheu a inspiração para algumas de suas principais canções.


No final de 1961 ele se juntou ao seu meio irmão Bunny Livingston, que depois viria a ser conhecido como Bunny Wailer, e a Winston McIntosh, que ficaria famoso como Peter Tosh. Estava formado o Wailing Wailers, que contava ainda com mais dois cantores.


A primeira canção do grupo foi "Judge Not", lançada pelo selo de Leslie Kong, um comerciante chinês que começava a investir no mercado fonográfico. Leslie apostava em jovens artistas jamaicanos e, entre seus contratados, figuravam Desmond Dekker e o ainda adolescente Jimmy Cliff. "Judge Not" só foi tocada pelos alto-falantes de carros que circulavam pelas ruas de Kingston, chamados de "sound systems", uma espécie de discoteca ambulante.


Depois dessa primeira experiência no mundo da música, ainda ao lado de Bunny Wailer e Peter Tosh, Bob grava no Studio One, maior estúdio de gravação da Jamaica, o hit "Simmer Down". Misturando o ska, ritmo proveniente do rhythm'n'blues norte americano, a uma letra que se apropriava da linguagem utilizada pelos "rude boys". Logo, a canção passou a ser uma espécie de hino entre grande parte da juventude jamaicana.


O termo "rude boy" se aplicava a uma parcela dos moradores de Trenchtown e de Concrete Jungle, duas das principais favelas de Kingston, para se referir aos malandros "barra-pesada" dessas áreas. Eles andavam armados, e na maioria das vezes, estavam "alterados". Ouviam ska e adoravam provocar confusões em geral.


O sucesso de "Simmer Down" teve um efeito paradoxal na carreira de Bob Marley e dos Wailers. Por um lado, o grupo passava a ser um dos mais prestigiados entre os jovens jamaicanos. Por outro lado, os Wailers também passaram a ser associados aos "rude boys", já que a linguagem utilizada na música era própria dos famigerados malandros jamaicanos.


A partir daí, os Wailers encontraram dificuldades para ter suas músicas executadas pelas rádios locais. Elas argumentavam que as músicas eram feitas por "rude boys" rastafáris, dois segmentos sociais muito marginalizados durante as décadas de 60 e 70 na Jamaica.


Assim, Bob Marley e seus aliados tiveram que apelar para "métodos alternativos", para que suas músicas fossem tocadas pelas rádios jamaicanas. Muitas vezes, os pára-brisas dos carros dos DJs das rádios eram quebrados, caso eles não tocassem as canções dos Wailers. "Essas são as leis da sobrevivência na Jamaica", já dizia Jimmy Cliff.


Apesar do preconceito dessas rádios com relação à música dos Wailers, o grupo tornava-se cada vez mais popular na Jamaica e se constituía como a maior expressão musical entre os jovens da ilha caribenha. Logo os Wailers passaram a ser conhecidos em terras estrangeiras, graças a produtores que vislumbraram o grande potencial desse fenômeno musical jamaicano.


Com o passar do tempo, desentendimentos e o desgaste devido ao avassalador sucesso do grupo, fizeram com que cada um dos três principais integrantes dos Wailers se separassem. Peter Tosh e Bunny Wailer partiram em carreira solo e Bob Marley passou a ser a principal voz em discos antológicos feitos com os remanescentes do grupo.


Apesar dessas mudanças, os ideais e o conteúdo das letras escritas pelo rei do reggae se mantiveram e até se intensificaram. "A gigantesca projeção de Bob vem da qualidade de sua obra e da inteligência e abrangência de suas letras atentando ou relembrando a todos valores éticos, morais e de convívio social. Tudo isso misturados às gírias jamaicanas e a religiosidade (Rastafarismo). Esse caldeirão foi transformando em uma linguagem musical de compreensão universal. Bob atentava a todos sobre a necessidade de paz, união racial, amizade e fraternidade. Ele é um dos maiores ícones mundiais em aspectos musicais e sociais", comenta Carlos Contartesi.


A morte de Bob em 11 de maio de 1981 (aos 36 anos de idade), devido a um câncer generalizado que se desenvolveu a partir de um ferimento no pé, não foi suficiente para calar os ideais desse mito. Sua música e suas idéias continuam vivas e são eternizadas de geração em geração.

Reggae


Reggae é um gênero musical desenvolvido originalmente na Jamaica do fim da década de 1960. Embora por vezes seja usado num sentido mais amplo para se referir à maior parte dos tipos de música jamaicana, o termo reggae indica mais especificamente um tipo particular de música que se originou do desenvolvimento do ska e do rocksteady.

O reggae se baseia num estilo rítmico caracterizado pela acentuação no tempo fraco, conhecido como skank. O estilo normalmente é mais lento que o ska porém mais rápido que o rocksteady, e seus compassos normalmente são acentuados na segunda e na quarta batida, com a guitarra base servindo ou para enfatizar a terceira batida, ou para segurar o acorde da segunda até que o quarto seja tocado. É principalmente essa "terceira batida", sua velocidade e o uso de linhas de baixo complexas que diferencia o reggae do rocksteady, embora estilos posteriores tenham incorporado estas inovações de maneira independente.

Precursores

Embora tenha sido influenciado fortemente pela música tradicional africana e caribenha, assim como pelo rhythm and blues americano, o reggae traça sua origem direta ao desenvolvimento progressivo do ska e do rocksteady na Jamaica da década de 1960.
O ska surgiu pela primeira vez nos estúdios da Jamaica entre os anos de 1959 e 1961, desenvolvendo-se a partir de um gênero anterior, o mento.[3] O ska caracteriza-se por uma linha de walking bass, ritmos acentuados da guitarra ou do piano no tempo fraco, e, por vezes, riffs jazzísticosmetais. Além de sua imensa popularidade entre os adeptos da moda rude boy, no país, o estilo conquistou muitos adeptos entre os mods, na Grã-Bretanha, a partir de 1964. De acordo com Barrow, os rude boys começaram a tocar deliberadamente os seus discos de ska à meia velocidade, preferindo danças mais lentamente como parte de sua imagem de durões.[3] nos
Em meados da década diversos músicos já haviam começado a tocar o ska num andamento mais lento, enfatizando a linha de baixo e os tempos fracos. O som mais lento foi chamado de rocksteady, o nome de um single de Alton Ellis. Esta fase da música jamaicana durou apenas até 1968, quando os músicos começaram a deixar ainda mais lento os andamentos das músicas, e acrescentaram a elas ainda mais efeitos; isto levou à criação do reggae.

História

A mudança do rocksteady para o reggae foi ilustrada pelo shuffle de órgão cujo pioneiro foi Bunny Lee, destaque nos singles de transição entre os dois gêneros, "Say What You're Saying" (1967), de Clancy Eccles, e "People Funny Boy" (1968), de Lee "Scratch" Perry. A faixa de 1967 dos Pioneers, "Long Shot Bus' Me Bet", já foi identificada como o exemplo mais antigo do novo ritmo que ficaria conhecido como reggae.[6] No início de 1968 as primeiras gravações de reggae foram feitas: "Nanny Goat", de Larry Marshall, e "No More Heartaches", dos Beltones. O hit de 1968 "Hold Me Tight", do artista americano Johnny Nash, recebeu o crédito de ter colocado o reggae pela primeira vez nas paradas de sucesso dos Estados Unidos.. O reggae começou a aparecer também no rock; um exemplo de canção do gênero que tinha uma levada de reggae foi "Ob-La-Di , Ob-La-Da", dos Beatles, de 1968
The Wailers, uma banda fundada por Bob Marley, Peter Tosh e Bunny Wailer em 1963, geralmente é tido como o grupo mais conhecido mundialmente a ter feito a transição por todos os três estágios da evolução do reggae - desde hits de ska como "Simmer Down", para o rocksteady mais lento, até o reggae. Além do Wailers, outros pioneiros importantes do gênero foram Prince Buster, Desmond Dekker, Jackie Mittoo, entre outros.
Os produtores jamaicanos foram influentes no desenvolvimento do ska para o rocksteady e o reggae na década de 1960. Alguns dos mais célebres produtores foram Coxsone Dodd, Lee "Scratch" Perry, Leslie Kong, Duke Reid, Joe Gibbs e King Tubby. Um destes primeiros produtores foi Chris Blackwell, fundador da Island Records em 1960, que se mudou para a Inglaterra em 1962, onde continuou a promover a música de seu país, formando uma parceria com a Trojan Records, fundada por Lee Gopthal em 1968, e que lançou obras de reggae no Reino Unido até 1974, quando foi comprada pela Saga.
O filme The Harder They Come, de 1972, com Jimmy Cliff, gerou popularidade e um interesse considerável para o reggae nos Estados Unidos e, consequentemente, no resto do mundo; o cover de 1974 da canção "I Shot the Sheriff", de Bob Marley, feita pelo guitarrista inglês Eric Clapton, ajudou a trazer o reggae ainda mais para o mainstream. A partir da metade da década de 1970 o reggae começou a obter cada vez mais tempo de execução nas rádios do Reino Unido, especialmente no programa de John Peel. A chamada "Era de Ouro do Reggae" corresponde aproximadamente ao dias de glória do roots reggae, o chamado "reggae de raiz". Na segunda metade da década a cena punk do país começou a se formar, e alguns DJs de punk costumavam tocar canções de reggae durante suas apresentações. Algumas bandas de punk incorporaram influências do reggae em sua música, e ao mesmo tempo o gênero começou a passar por uma espécie de renascimento no Reino Unido, que prosseguiu até a década seguinte, exemplificado por grupos como Steel Pulse, Aswad, UB40 e Musical Youth. Entre outros artistas de reggae que gozaram de um destaque internacional no início da década de 1980 estão Third World, Black Uhuru e Sugar Minott. Os Prêmios Grammy introduziram a categoria de melhor álbum de reggae em 1985.

Reggae e sociedade

Original da década de 1960, o ritmo divide-se em dois subgêneros, o "roots reggae" (raízes do reggae) e o "dancehall reggae", que é originário da década de 1970. O reggae é constantemente associado ao movimento rastafari, que, de fato, influenciou muitos dos músicos apologistas do estilo reggae nas décadas de 1970 e 1980. De qualquer maneira, o reggae trata de vários assuntos, não se restringindo à cultura rastafariana, como o amor, o sexo e principalmente a crítica social.
Uma das características que podem caracterizar o reggae é a crítica social, como por exemplo cantar a desigualdade, o preconceito, a fome e muitos outros problemas sociais
A BANDEIRA


Muita gente desenha, acha interessante, bonita, quer mostrar que é do movimento, mas será que sabe realmente o porquê da bandeira que simboliza o reggae ser vermelha, preta, verde e amarela?

Vamos para a aulinha de História de hoje. O vermelho simboliza a Igreja dos Rastafari, representando também o sangue dos mártires da história dos rastas. O preto representa a cor dos africanos, dos quais descendem 98% dos jamaicanos (não preciso explicar também que o reggae veio da Jamaica, né?!). O verde significa a beleza da vegetação da Etiópia e da terra prometida. E o amarelo é usado para simbolizar a abundância de riquezas da sua terra natal.
Boas vibrações…
Texto retirado do site: Reggae à sua maneira